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Um Mergulho na História | Por Alexandre Monteiro
Neste dia 26 de Março, o naufrágio do cargueiro angolano «Kassamba» ao largo de Leixões
O cargueiro angolano “Kassamba” foi construído no Japão, em 1977, pelos estaleiros Ujina Zosensho, de Hiroshima.
Com um casco de aço, 136 metros de comprimento, 20,5 metros de boca e 11,6 metros de calado, deslocava 8544 toneladas brutas e era propulsionado por um motor diesel que lhe permitia alcançar até 15 nós de velocidade máxima. Operado pelas Linhas Marítimas de Angola, o navio realizava transporte de carga geral em rotas internacionais, ligando portos africanos a europeus.
Na sua derradeira viagem, o “Kassamba” partira de Cádis, em Espanha, com destino aos portos angolanos de Luanda e Lobito, fazendo escala em Leixões. Após carregar no porto português cerca de 158 contentores — entre os quais 70 com vinho e outros com bens alimentares e tecidos — o navio largou amarras na noite de 25 de Março de 1985, pelas 21:45. A bordo seguiam 31 tripulantes: 24 angolanos e 7 jugoslavos, nesse número se incluindo o comandante, Giorgio Ribanic, de 53 anos, e os oficiais Moreno Ipavic e Niksa Banovac, ambos com 26 anos.
Cerca de meia hora depois de ter deixado o porto, quando navegava a 4,5 milhas a sudoeste de Leixões, o “Kassamba” sofreu uma avaria grave: presume-se que o embate de contentores mal acondicionados, devido ao mar agitado, tenha provocado o rompimento do casco, na zona do tanque de fundo provocando infiltrações e a inundação progressiva dos porões.
O navio começou a adornar então para bombordo, atingindo entre 25 e 32 graus de inclinação. Pelas 22:20 foi emitido o primeiro SOS, sendo este captado por um operador de banda do cidadão, com o código “Abel Leão”.
As autoridades marítimas portuguesas responderam prontamente. O rebocador “Monte São Brás” estabeleceu um cabo de reboque às 23:33.
Durante toda a noite, o Kassamba foi vigiado de perto pelo salva-vidas “Patrão Joaquim Casaca” e pelo navio-patrulha “Zambeze”, da Marinha Portuguesa. À medida que a inclinação se agravava, tornou-se claro que o navio não iria recuperar da mesma. Foram então tomadas medidas para evitar que o “Kassamba” se afundasse junto à costa, o que representaria risco para a navegação no canal de acesso ao porto.
Ao nascer do sol do dia 26, já com inclinação ainda mais acentuada e sem hipótese de qualquer recuperação, o Capitão do Porto de Leixões ordenou a evacuação total da tripulação. Vinte e nove tripulantes lançaram-se ao mar, numa naveta de salvamento, e foram recolhidos pelo salva-vidas durante a madrugada, os dois restantes resgatados pelo Monte de Leça pouco depois das 08:45. Às 15:10 do dia 26 de Março de 1985, o “Kassamba” foi a pique na posição 41°14,5'N 08°55'W, a cerca de 11 milhas náuticas a noroeste de Leixões.
A perda foi total, mas não houve vítimas. Toda a carga foi dada como irrecuperável. A hipótese de dinamitação do do navio foi inicialmente ponderada, de modo a se evitar riscos de poluição, mas este procedimento revelou-se desnecessário, pois o cargueiro afundou-se por si próprio.
Actualmente, o “Kassamba” encontra-se no fundo do mar, num leito de areia, a 70 metros de profundidade. O navio está deitado sobre bombordo e orientado a noroeste, atingindo-se o topo do destroço aos 55 metros de profundidade.
A estrutura do casco mantém-se em condições razoáveis, com o porão de carga aberto. Todos os contentores foram perdidos durante o afundamento, restando alguns cabos e redes de pesca presos à estrutura.
No Verão, as águas oferecem boa visibilidade, podendo esta ultrapassar os 30 metros, o que faz do local um dos naufrágios mais impressionantes da costa portuguesa para mergulho técnico.
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Colaboração de Alexandre Monteiro com a APP, texto respigado da página que o autor mantém no Facebook, intitulada "Um Mergulho na História".
Nesse espaço, o arqueólogo náutico e subaquático, também investigador universitário, mantém a secção "Um naufrágio por dia".
É dessa secção que respigamos o texto que aqui publicamos.
"Um Mergulho na História" trata de "Naufrágios portugueses no Mundo, património cultural subaquático de Portugal e Ilhas, arqueologia náutica e subaquática, piratas, corsários e tesouros, reais, percepcionados e imaginários submersos".
A visitar em https://www.facebook.com/mergulho.historia
Alexandre Monteiro é arqueólogo náutico e subaquático, investigador do HTC-CFE da Universidade Nova de Lisboa e membro da Academia de Marinha.
É pós-graduado em Mergulho Científico, instrutor de mergulho e mergulhador profissional, tendo projectos de arqueologia com as autarquias de Alcácer do Sal, Lagos e Esposende e, no estrangeiro, nos Emirados Árabes Unidos e na Austrália.
É consultor da UNESCO, do governo de Cabo Verde e da Missão de Combate aos Crimes contra o Património Cultural da OSCE.
É, há 25 anos, o criador das bases de dados relativos a naufrágios históricos de Portugal Continental, Açores e Madeira, bem como de Omã e Cabo Verde.
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