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Um Mergulho na História | Por Alexandre Monteiro
Dia 8 de Fevereiro de 1924, o naufrágio do vapor britânico «Mora», ao norte do cabo de São Vicente.
O “Mora” era um navio de carga britânico construído em 1922 pelo estaleiro Seebeck Georg A.G. - Weser Werk Seebeckwerft, em Bremerhaven (Wesermünde), Alemanha.
Com um deslocamento de 5067 toneladas brutas, o navio tinha 112,9 metros de comprimento, 15,5 metros de largura e 8,3 metros de calado.
Construído em aço e propulsionado por um motor a vapor de tripla expansão com três cilindros, possuía uma única hélice e um eixo, desenvolvendo uma potência nominal de 347 cavalos. Pertencia à companhia Strick Line Ltd., propriedade de Frank Clarke Strick e baseada em Londres.
No dia 8 de Fevereiro de 1924, o Mora, sob o comando do Capitão J. W. Worthington, encontrava-se numa viagem de transporte de carvão, com origem em Manchester, escala em Roterdão e destino final para Savona, Itália.
Ao aproximar-se da costa portuguesa, próximo ao cabo de São Vicente, foi apanhado por uma violenta tempestade, caracterizada por ventos fortes vindos de oeste, mar agitado e uma neblina densa, condições que provocaram o encalhe do navio em formações rochosas traiçoeiras.
Um pedido de socorro foi enviado via rádio: "Estamos encalhados em rochedos perto do cabo de São Vicente. Precisamos de assistência." O navio a vapor “Djersissa” tentou responder ao apelo de socorro, mas as condições meteorológicas severas impediram qualquer tentativa de aproximação até ao amanhecer.
Apesar dos esforços da tripulação do Mora, o seu salvamento foi dificultado pelas condições climáticas severas. Às 05:30 da manhã do dia 9 de Fevereiro, o “Mora” estava totalmente submerso.
Os relatos indicam que o último contato do Mora via rádio, antes de ser totalmente destruído pelo mar, foi: "Tentaremos desembarcar dentro de meia hora; se não nos ouvirem novamente, tal significa que abandonámos o navio”.
Os sobreviventes relataram que derramaram óleo no mar, para acalmar as ondas, permitindo o lançamento de um bote salva-vidas. No entanto, o bote virou-se logo após ser lançado, resultando na morte de vários tripulantes. Assim, dos 35 tripulantes a bordo, 17 perderam a vida, incluindo-se o comandante no número dos que morreram.
Os restantes 18 membros da tripulação conseguiram sobreviver ao naufrágio, sendo resgatados posteriormente, após momentos de grande tensão e perigo, muitos deles com ferimentos e em estado de exaustão.
Entre estes tripulantes contavam-se Robertson, oficial de primeira classe, de Giffnock, Glasgow; Finlay Ross, cadete, de Coatbridge; F. Paterson, marinheiro, de Elderslie Street, Glasgow; T. Morrison, marinheiro, de Kirkwall; A. McPhee, marinheiro, de Glasgow; Fred Richardson, cozinheiro auxiliar, de South Shields; Booker, Foote, Hastings, Baldwin, Welldon e Johnson.
Entre as vítimas mortais estavam os seguintes membros da tripulação: J. W. Worthington, o capitão do navio, Alex Nelson, engenheiro-chefe, de Glasgow; John McGregor, contramestre, de North Park Street, Glasgow; Robert McPherson, fogueiro, de Elderslie Street, Glasgow; Thomas Ryan, também fogueiro, de Thistle Street, Glasgow, que fazia a sua primeira viagem como tripulante do Mora; tinha 28 anos e experiência como soldado durante a Primeira Guerra Mundial; W. Bain, fogueiro, de Leith; Williams, segundo oficial; Barham, operador de rádio, e os marinheiros Brown; Gammon; Doolan; Shorttell; Doornbosh; Banham; W. F. Smith; A. Smith e Stones. O seu enterro foi realizado em condições rudimentares devido à falta de recursos na área, os corpos a ser levados para uma igreja de Vila do Bispo onde o padre se recusou a realizar os ritos devido à religião anglicana de quase todas as vítimas.
A iluminação durante o enterro foi feita com recurso a uma lâmpada de bicicleta, já que as condições noturnas dificultavam o trabalho de inumação, tendo sido escavada uma sepultura coletiva para enterrar a maioria das vítimas - com exceção de uma, que foi enterrada separadamente, devido à sua fé católica. O momento foi descrito como sombrio e emocional, com os sobreviventes a entoar o cântico “Eternal Father Strong to Save”.
Estes sobreviventes, que enterraram com as suas próprias mãos os seus companheiros, foram depois acolhidos e assistidos pelas autoridades locais - nestas se incluindo o capitão do Porto de Lagos e o Cônsul Britânico em Portimão - antes de serem transportados para Southampton no navio “Andes”, a 19 de Fevereiro de 1924.
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Colaboração de Alexandre Monteiro com a APP, texto respigado da página que o autor mantém no Facebook, intitulada "Um Mergulho na História".
Nesse espaço, o arqueólogo náutico e subaquático, também investigador universitário, mantém a secção "Um naufrágio por dia".
É dessa secção que resgigamos o texto que aqui publicamos.
"Um Mergulho na História" trata de "Naufrágios portugueses no Mundo, património cultural subaquático de Portugal e Ilhas, arqueologia náutica e subaquática, piratas, corsários e tesouros, reais, percepcionados e imaginários submersos".
A visitar em https://www.facebook.com/mergulho.historia
Alexandre Monteiro é arqueólogo náutico e subaquático, investigador do HTC-CFE da Universidade Nova de Lisboa e membro da Academia de Marinha.
É pós-graduado em Mergulho Científico, instrutor de mergulho e mergulhador profissional, tendo projectos de arqueologia com as autarquias de Alcácer do Sal, Lagos e Esposende e, no estrangeiro, nos Emirados Árabes Unidos e na Austrália.
É consultor da UNESCO, do governo de Cabo Verde e da Missão de Combate aos Crimes contra o Património Cultural da OSCE.
É, há 25 anos, o criador das bases de dados relativos a naufrágios históricos de Portugal Continental, Açores e Madeira, bem como de Omã e Cabo Verde.
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