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Um Mergulho na História | Por Alexandre Monteiro

Neste dia de 29 de Janeiro, o naufrágio da fragata l´Astrée, em 1796

A última viagem da fragata francesa “l´Astrée” tinha começado a 1 de Janeiro de 1796, em Guadalupe, nas Antilhas Francesas, onde tinha embarcado um carregamento de café e de açúcar, destinado aos mercados da metrópole.

Quase um mês depois, ao largo dos Açores, os estragos causados pelos vermes xilófagos das águas quentes das Caraíbas faziam-se sentir através das infiltrações de água salgada que, a cada momento, faziam subir o nível da água no interior da embarcação.

A bordo, os 180 marinheiros, passageiros e soldados de marinha estavam desesperados. Com efeito, há já vários dias e noites que as 5 bombas do navio mal conseguiam esgotar a água, que não cessava de subir nos porões.

O peso das 18 peças de artilharia que a fragata embarcava - 2 peças de calibre 12, doze de calibre 6 e quatro canhões pequenos - também em nada ajudavam à flutuação do navio, o que levou a tripulação a lançar borda fora a maior parte da artilharia, à excepção de dois canhões de calibre 6. Em desespero de causa, o comandante ordenou uma derrota para as Ilhas portuguesas, a ver se nelas se salvavam.

Assim, a 29 de Janeiro de 1796, “l´Astrée”, impelida pelo mau tempo, aproximava-se perigosamente da costa da ilha do Pico, nos Açores.

À vista da ilha, os quase náufragos, aflitos, continuamente pediram socorro, atirando muitos tiros de peças de artilharia, da parte do mar; mas a bravura do mar, naquele dia, não permitiu que saíssem nos barcos, até que enfim foram dar à costa do Pico. No dia seguinte, o Juiz de Fora da ilha do Pico, Luiz Correia Teixeira Bragança, juntamente com o seu escrivão, Joaquim José da Rosa, chegaram ao sítio do naufrágio, em Santo Amaro, onde constataram que a fragata se tinha feito em pedaços e que o mar, por ser naquele sítio o tempo muito tormentoso, logo levara consigo a maior parte da dita fragata, deixando unicamente na costa um grande monte de cabos, e algumas velas, envoltas com uns bocados da mastreação.

Entre estes destroços, flutuavam os corpos mortos dos infelizes que se tinham afogado, num total de 123 pessoas, indo os cadáveres dar à costa da ilha do Pico durante vários dias. Entre os mortos contavam-se o capitão da fragata, Monsieur Darbon, quatro oficiais, dois aspirantes e o General Chevron, antigo Governador da ilha de Santo Eustáquio, que recolhia a França, depois de ter sido estropiado na guerra. Entre os 57 sobreviventes, que tinham conseguido salvar-se num dos escaleres da fragata, contavam-se 7 ingleses que vinham por prisioneiros de guerra a bordo da dita fragata.

Imediatamente o Juiz se encarregou de enviar os náufragos para a vizinha ilha do Faial, onde mais oportunidades teriam de arranjar transporte para o continente europeu.

Fez também enterrar os mortos, para evitar algum contágio. Juntamente com os sobreviventes, seguiram as malas, das que se puderam salvar do naufrágio, bem como a documentação diplomática da Convenção francesa. No Faial, os ingleses que vinham prisioneiros foram entregues ao seu Cônsul.

Também de pronto, o Juiz de Fora iniciou o armazenamento dos destroços arrojados à costa e desencadeou mesmo várias tentativas de recuperação dos bens submersos no casco soçobrado porque se viam muitas coisas no fundo do mar, até o fundo do casco da fragata, com a primeira coberta bem evidente, onde o Juiz fazia tenção de mandar , para ver se encontravam alguma coisa de valor. Todos os custos destas acções foram suportados pela Fazenda Real que foi compensada, mais tarde, pela venda em hasta pública dos destroços.

Entre os salvados encontrava-se parte da carga como sejam duas barricas de café e uma barrica grande com açúcar, bem como alguns pertences pessoais dos tripulantes, tais como uma arca encourada que vinha aberta, quebrada num canto, um caixão pequeno com dois fiadores de espada, ambos de ouro, uma bengala de cana da Índia, com um pequeno castão de ouro francês e a ponteira de prata, umas arrecadas de ouro, que trazia um dos afogados, mais duas patacas francesas e três moedas pequenas de prata, mais dois fiadores de ouro que se acharam num caixão, uma Bíblia inglesa, mais outro livro também inglês, que tinha por titulo” Cartas de Abelardo e Heloísa”, mais um pequeno livro, também inglês, que mostrava ser de orações quotidianas.

Foram recuperados também elementos do próprio navio tais como 29 arrobas de cobre, do forro da fragata, dua cabeças de bombas de bronze, duas fêmeas, em bronze, do leme, uma pasta de chumbo que pesou cinco arrobas, uma peça de artilharia em bronze, vinte moitões que ainda podiam servir, duas espingardas partidas, uma pistola ordinária, bem como vários cabos, amarras, velas e estopa.

Seis meses mais tarde, os náufragos franceses embarcaram a bordo da frota do Brasil, após terem sido mantidos em represália, ou seja, sob a guarda do Comandante Militar do Faial e sem que pudessem ter contacto directo com os faialenses, já que Portugal era aliado da Espanha, que estava em guerra contra a França - esse estado de coisas estava bem expresso no ataque feito, na mesma altura, por três navios corsários franceses, ao bergantim português “São José” que, capitaneado por José Rodrigues dos Santos, fora aprisionado ao largo dos Biscoitos, na ilha Terceira, no dia 30 de tendo sido saqueado e queimado a cerca de 9 léguas da ilha.
 

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Colaboração de Alexandre Monteiro com a APP, texto respigado da página que o autor mantém no Facebook, intitulada "Um Mergulho na História".
Nesse espaço, o arqueólogo náutico e subaquático, também investigador universitário, mantém a secção "Um naufrágio por dia".
É dessa secção que resgigamos o texto que aqui publicamos.

"Um Mergulho na História" trata de "Naufrágios portugueses no Mundo, património cultural subaquático de Portugal e Ilhas, arqueologia náutica e subaquática, piratas, corsários e tesouros, reais, percepcionados e imaginários submersos".
A visitar em https://www.facebook.com/mergulho.historia

Alexandre Monteiro é arqueólogo náutico e subaquático, investigador do HTC-CFE da Universidade Nova de Lisboa e membro da Academia de Marinha.

É pós-graduado em Mergulho Científico, instrutor de mergulho e mergulhador profissional, tendo projectos de arqueologia com as autarquias de Alcácer do Sal, Lagos e Esposende e, no estrangeiro, nos Emirados Árabes Unidos e na Austrália.

É consultor da UNESCO, do governo de Cabo Verde e da Missão de Combate aos Crimes contra o Património Cultural da OSCE.

É, há 25 anos, o criador das bases de dados relativos a naufrágios históricos de Portugal Continental, Açores e Madeira, bem como de Omã e Cabo Verde.

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