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Um Mergulho na História | Por Alexandre Monteiro

Neste dia de 5 de Março, um presidente americano na Madeira

Franklin Pierce, 14.º presidente dos Estados Unidos entre 1853 e 1857, foi uma figura controversa da política americana.

Defensor da soberania popular na questão da escravatura e alinhado com os interesses sulistas - apesar de ser oriundo do Norte - assinou o famigerado Kansas-Nebraska Act em 1854, permitindo que os novos territórios decidissem sobre a legalização da escravatura, o que contribuiu para a escalada de tensões que levariam à Guerra Civil Americana.

Com a sua popularidade em declínio e sem perspetiva de um segundo mandato, Pierce decidiu afastar-se da vida política e empreender uma viagem à Europa, em busca de descanso e reflexão.

Em dezembro de 1857, conseguiu assegurar passagem para si e para a sua esposa numa embarcação da Marinha dos Estados Unidos com destino à ilha portuguesa da Madeira. O seu amigo Clarence March tinha um tio que servia como cônsul dos Estados Unidos na ilha, e este ofereceu-se para alojar o ex-presidente e a sua mulher. Assim, os Pierce ficaram hospedados na espaçosa residência de Howard March durante os seis meses seguintes. No Funchal, Franklin Pierce aproveitou o clima ameno da Madeira para recuperar energias e explorar a ilha. Participou em eventos sociais, conheceu figuras locais e apreciou a beleza natural da região, desfrutando de um período de relativa tranquilidade.

No entanto, essa calma foi abruptamente interrompida por uma das tempestades mais violentas da história recente da ilha. Na noite de 5 de março de 1858, um temporal assolou o arquipélago com ventos impiedosos e ondas gigantescas. O porto do Funchal, tradicionalmente seguro para os navios em trânsito pelo Atlântico, transformou-se num cenário de destruição.

A bordo da fragata americana Cumberland, fundeada ao largo da Madeira, a tripulação enfrentou momentos de desespero quando os cabos de fundeio se partiram devido à força do mar. Para evitar que o navio fosse levado contra as rochas, os marinheiros lançaram outra âncora e tomaram medidas drásticas para estabilizar a embarcação. Num ato desesperado, quatro canhões foram atirados ao mar para reduzir o peso e melhorar a manobrabilidade do navio. Apesar das dificuldades, os marinheiros conseguiram manter a Cumberland segura, embora com perdas significativas de equipamento.

O impacto da tempestade não se limitou à fragata americana. Dois navios mercantes, incluindo o brigue inglês Reliance, foram completamente destruídos e afundaram-se na baía do Funchal. Outras embarcações mais pequenas foram arrastadas para terra ou severamente danificadas. Nos dias seguintes, o porto estava repleto de destroços, e as equipas de resgate trabalhavam incessantemente para recuperar o que fosse possível.

Franklin Pierce, que assistiu a tudo do terraço da casa de Howard March, ficou profundamente impressionado com a fúria do oceano e a luta dos marinheiros para salvar as suas embarcações. A experiência marcou-o de tal forma que passou os dias seguintes a observar a recuperação do porto e a interagir com os habitantes locais, que relataram as dificuldades enfrentadas durante o temporal.

A Cumberland, que sobreviveu ao temporal da Madeira, era uma fragata de 50 canhões lançada ao mar em 1842 no Estaleiro Naval de Boston. Inicialmente projetada como uma fragata de grande porte, foi posteriormente convertida em sloop-of-war entre 1855 e 1857, tornando-se mais leve e ágil. No período entre 1857 e 1859, serviu como nau capitânia do Esquadrão Africano, patrulhando a costa ocidental de África para suprimir o tráfico de escravos. Durante esta missão, abordou diversas embarcações suspeitas, mas apenas conseguiu apreender a escuna Cortez, onde foram encontradas algemas e outros instrumentos usados no tráfico negreiro.

Após a missão em África, a Cumberland regressou aos Estados Unidos e tornou-se nau capitânia do Esquadrão Doméstico em 1860. Com o agravamento das tensões internas que culminariam na Guerra Civil, foi enviada para Hampton Roads, Virgínia. Em 1861, conseguiu escapar à destruição quando a União incendiou os seus próprios navios no Estaleiro Naval de Gosport para evitar que fossem capturados pelos confederados.

A sua história, contudo, terminou de forma dramática em 8 de março de 1862, durante a Batalha de Hampton Roads. A Cumberland encontrava-se ancorada quando o couraçado confederado CSS Virginia avançou pelo rio Elizabeth e a abalroou, afundando-a. O ataque resultou na perda de 121 homens da sua tripulação e demonstrou a vulnerabilidade dos navios de madeira face às novas embarcações blindadas, marcando um ponto de viragem na história naval.

Franklin Pierce, que testemunhara a resistência da Cumberland contra a tempestade da Madeira em 1858, não poderia imaginar que apenas quatro anos depois o navio acabaria por sucumbir às novas tecnologias de guerra. O que inicialmente parecia ser um símbolo da resiliência americana no Atlântico acabou por ser uma das primeiras vítimas da revolução naval impulsionada pela Guerra Civil.
 

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Colaboração de Alexandre Monteiro com a APP, texto respigado da página que o autor mantém no Facebook, intitulada "Um Mergulho na História".
Nesse espaço, o arqueólogo náutico e subaquático, também investigador universitário, mantém a secção "Um naufrágio por dia".
É dessa secção que respigamos o texto que aqui publicamos.

"Um Mergulho na História" trata de "Naufrágios portugueses no Mundo, património cultural subaquático de Portugal e Ilhas, arqueologia náutica e subaquática, piratas, corsários e tesouros, reais, percepcionados e imaginários submersos".
A visitar em https://www.facebook.com/mergulho.historia

Alexandre Monteiro é arqueólogo náutico e subaquático, investigador do HTC-CFE da Universidade Nova de Lisboa e membro da Academia de Marinha.

É pós-graduado em Mergulho Científico, instrutor de mergulho e mergulhador profissional, tendo projectos de arqueologia com as autarquias de Alcácer do Sal, Lagos e Esposende e, no estrangeiro, nos Emirados Árabes Unidos e na Austrália.

É consultor da UNESCO, do governo de Cabo Verde e da Missão de Combate aos Crimes contra o Património Cultural da OSCE.

É, há 25 anos, o criador das bases de dados relativos a naufrágios históricos de Portugal Continental, Açores e Madeira, bem como de Omã e Cabo Verde.

 

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