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Um Mergulho na História | Por Alexandre Monteiro
Neste dia 19 de Março, o naufrágio de uma corveta do Brasil
A praia da Samarra, situada na costa ocidental de Portugal, no concelho de Sintra, é uma pequena enseada isolada, encaixada entre falésias escarpadas. Mas a sua beleza natural esconde um mar traiçoeiro, caracterizado por correntes fortes e fundos rochosos, que historicamente representaram um desafio à navegação. Durante séculos, a região foi palco de inúmeros naufrágios, devido à falta de pontos de referência costeiros, aos frequentes nevoeiros e à força da ondulação, tornando-se um local de grande interesse para o estudo da história marítima portuguesa.
Em 1786, a praia da Samarra foi cenário do naufrágio da corveta portuguesa “Nossa Senhora do Carmo, São José e Almas,” que partira de Pernambuco rumo a Lisboa, transportando uma carga valiosa composta por açúcar, cochinilha, café, couros, algodão e pau-brasil.
Com efeito, ao aproximar-se da costa portuguesa, no dia 19 de Março de 1786, esta embarcação encontrou condições marítimas adversas, naufragando às cinco da tarde.
O desastre resultou na morte de 20 dos 27 tripulantes, cujos corpos foram sepultados na igreja da Assafora, à medida que foram dando à costa.
Apenas sete marinheiros sobreviveram, chegando a Sintra feridos e descalços, ficando internados no hospital da vila. No dia seguinte ao naufrágio, documentos oficiais, incluindo seis cartas dirigidas às autoridades, foram recuperados por entre os destroços. O caso foi supervisionado pelo Intendente Geral de Polícia, Diogo Inácio de Pina Manique, que determinou o destino da carga resgatada.
No século XVIII, as corvetas da marinha mercante portuguesa desempenharam um papel fundamental no comércio transatlântico e nas rotas coloniais que ligavam Portugal às suas possessões ultramarinas. Embora fossem embarcações tradicionalmente associadas à marinha de guerra, as corvetas foram também amplamente utilizadas no transporte de mercadorias valiosas e no apoio às frotas comerciais, garantindo não só o abastecimento da metrópole, mas também a proteção contra ameaças como piratas e corsários.
As corvetas mercantes portuguesas desta época eram navios de três mastros, com velame ágil e uma estrutura leve, projetadas para combinar velocidade e capacidade de carga. Normalmente construídas em madeira tropical resistente, como o pau-brasil e a teca, possuíam um convés elevado e uma linha de água relativamente baixa, características que as tornavam aptas para navegações de longa distância. Com deslocamentos que variavam entre as 300 e 600 toneladas, eram menores e mais manobráveis que as grandes naus e galeões, o que lhes permitia enfrentar melhor as tempestades e realizar viagens mais rápidas.
O comércio colonial português do século XVIII dependia fortemente dessas embarcações para o transporte de açúcar, tabaco, café, algodão, couros e madeiras preciosas, provenientes do Brasil, bem como especiarias, seda e porcelana, importadas da Ásia através de Macau e Goa. Muitas dessas corvetas seguiam as rotas atlânticas entre o Brasil e Portugal, transportando não apenas bens materiais, mas também informações e funcionários administrativos essenciais para o governo colonial. Apesar de serem navios mercantes, muitas corvetas estavam armadas com canhões para defesa contra os ataques de piratas e corsários, sobretudo nas águas do Atlântico e do Índico.
Será certamente a esta corveta que pertencem os canhões em ferro reportados ao largo da Samarra.
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Colaboração de Alexandre Monteiro com a APP, texto respigado da página que o autor mantém no Facebook, intitulada "Um Mergulho na História".
Nesse espaço, o arqueólogo náutico e subaquático, também investigador universitário, mantém a secção "Um naufrágio por dia".
É dessa secção que respigamos o texto que aqui publicamos.
"Um Mergulho na História" trata de "Naufrágios portugueses no Mundo, património cultural subaquático de Portugal e Ilhas, arqueologia náutica e subaquática, piratas, corsários e tesouros, reais, percepcionados e imaginários submersos".
A visitar em https://www.facebook.com/mergulho.historia
Alexandre Monteiro é arqueólogo náutico e subaquático, investigador do HTC-CFE da Universidade Nova de Lisboa e membro da Academia de Marinha.
É pós-graduado em Mergulho Científico, instrutor de mergulho e mergulhador profissional, tendo projectos de arqueologia com as autarquias de Alcácer do Sal, Lagos e Esposende e, no estrangeiro, nos Emirados Árabes Unidos e na Austrália.
É consultor da UNESCO, do governo de Cabo Verde e da Missão de Combate aos Crimes contra o Património Cultural da OSCE.
É, há 25 anos, o criador das bases de dados relativos a naufrágios históricos de Portugal Continental, Açores e Madeira, bem como de Omã e Cabo Verde.
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