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POR ARTUR MANUEL PIRES
A mesma terra e a mesma água
No meio mineiro, havia uma estória antiga e engraçada sobre uma simpática funcionária dos serviços geológicos, encarregada da edição do boletim mensal, que depois de rever minuciosamente os artigos todos, repletos de datações de eras geológicas, desabafava com quem a quisesse ouvir, que nunca entendia bem o porquê daquela correria do envio dos originais para a gráfica, e da gráfica para os leitores.
E no meu tempo de aluno de engenharia de minas do Instituto Superior Técnico, se no decorrer de uma aula, um professor distraído deixasse cair um milhão de anos ao exemplar que estudávamos na altura, também ninguém ia dar por isso, preocupados que estávamos com o último número dos Cahiers du Cinéma, ou com a inoperância do meio-campo do Sporting naquela época.
E no entanto, o que faz um minério é o tempo; o tempo presente. Já que uma das caraterísticas de um minério, é ser uma espécie mineral com valor acrescentado.
Aquele valor pode ser quase eterno, como no caso do ferro, que tem acompanhado a par e passo a marcha do Homem ao cimo da terra e da história, ou fugaz, como o urânio, que passou de ser a energia do futuro para ser a do passado, através de uma campanha relâmpago bem-sucedida de diabolização.
Já o sentido de oportunidade (o valor de um mineral numa determinada altura) e o intervalo de tempo que lhe está associado, deve ser suficiente para permitir o lucro de uma exploração mineira, suportando os elevadíssimos investimentos desta atividade, a que acrescem os que são característicos da fase de prospeção.
A este problema dos avultados investimentos – e recordamos que a meio do século XX, a indústria mineira era o negócio de capital mais intensivo à superfície (e neste caso, debaixo) da Terra, e mesmo no fundo do mar, como no caso do petróleo – é preciso adicionar a resolução dos impactes ambientais causados, e a instabilidade pela posse do direito de exploração, condicionada pela diversa legislação mineira nacional, salutarmente preocupada com os interesses das populações dos locais de exploração e respetivas imediações, ou pelos apetites nem sempre lógicos das políticas dos estados estrangeiros onde as minas se instalam, com a agravante de que nestes casos, se tratam geralmente de mega indústrias.
Este conjunto, na atualidade possui mais dois problemas, e uma vez mais, ambos económicos.
Agora, o investimento é aumentado do preço da robótica, que de uma forma admirável e louvável, tem vindo a substituir a presença humana nos locais de maior perigo e insalubridade, e a janela de tempo formada pela conservação (pelo menos) da procura, por um período razoável, pode subitamente fechar-se, pela descoberta de novos materiais, que atiram quase instantaneamente os velhos para parques temáticos de arqueologia industrial.
Ora este quadro apenas se complica, quando é transferido para o fundo do mar.
São os mesmos problemas, acrescidos por uma coluna de água com alguns milhares de metros.
Tudo isto, quando não se conhecem – e provavelmente não se conhecerão, conforme têm vido a revelar estudos de geoquímica e de geologia – novas espécies minerais nos fundos oceânicos, e em que os recursos minerais em terra estão longe de estarem esgotados.
Até na Europa. E até em Portugal.
Na Alemanha, numa altura em que parece que o carvão passou de indispensável (e motor civilizacional do período histórico porventura mais fecundo da humanidade, como foi a revolução industrial) a problemático, e agora a imoral, estão enterradas no sub-solo, mais de 40 biliões de toneladas de carvão, quase 5 % das reservas mundiais.
Em Portugal temos o caso do cobre. Amplamente presente na denominada faixa piritosa ibérica, na grande mancha alentejana-andaluza, o cobre é extraído das pirites (FeS2) em Aljustrel, e das calcopirites (CuFeS2) em Neves Corvo, em quantidades tais que fazem desta última, a melhor mina de cobre da Europa.
E contudo, aquele sentido de oportunidade que falámos no inicio, provocou calafrios nos gestores mineiros a meio dos anos oitenta do século passado.
O cobre, com reservas estimadas em cerca de 900 milhões de toneladas, o minério mais utilizado pelo homem, depois do ferro e do alumínio, sobretudo pelas suas aptidões condutoras, estava a ser colocado em causa pelas fibras óticas. O futuro iam ser as comunicações, tanto de voz quanto de dados, e estas iam prescindir do cobre, porque iam ser feitas imaterialmente no espaço, ou através de fibras óticas. Os cabos transmissores, tais como os conhecíamos e conhecemos, tinham os seus dias contados.
Mas como sabemos, nada disto aconteceu. O cobre continuou a revelar-se insubstituível no fabrico de cabos, e estes, nomeadamente os submarinos, na transmissão de voz e dados.
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