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Um Mergulho na História | Por Alexandre Monteiro

Neste dia 1 de Fevereiro de 1856, e de 1857, os naufrágios das escunas «Mary» em Lagos

A história marítima é repleta de dificuldades no que toca à identificação precisa de navios naufragados, especialmente quando se trata de embarcações mercantes britânicas dos séculos XVII a XIX. Durante este período, era comum batizar navios com nomes genéricos e repetitivos, o que complica enormemente a tarefa de historiadores e investigadores que tentam reconstruir naufrágios e rotas comerciais.

Entre os nomes mais frequentes na marinha mercante britânica, encontramos “Elizabeth”, “Ann”, “James”, “Hope”, “Friendship” e “Mary”. O nome “Mary”, em particular, e as suas variadas declinações, é um verdadeiro pesadelo para quem estuda os naufrágios do Atlântico, pois inúmeras embarcações receberam essa designação ao longo dos séculos.

Um exemplo concreto dessa dificuldade é o caso de duas escunas britânicas chamadas “Mary”, que naufragaram no mesmo espaço geográfico, com apenas um ano de intervalo, ao largo de Lagos, no Algarve.

O primeiro naufrágio: no dia 1 de Fevereiro de 1856, a escuna britânica “Mary” afundou-se quatro milhas ao largo de Lagos. A sua tripulação - o capitão J. Russel, o piloto H. Riesberger e mais seis homens - conseguiu ser resgatada e foi transportada para Lisboa pelo caíque de Lagos “Jesus Piedade”. Contudo, os registos da época não fornecem detalhes sobre a tonelagem, porto de registo ou nome do capitão, dificultando a sua identificação exata.

O segundo naufrágio: exatamente um ano depois, às 05:00 da manhã de 1 de Fevereiro de 1857, outra escuna britânica chamada “Mary” naufragou junto ao forte da Meia Praia, em Lagos. Esta embarcação, do porte das 150 toneladas, estava registada no porto de Londres. Também neste caso, toda a tripulação, também de oito homens, se conseguiu salvar.

A coincidência de datas (dia e mês), de tipologia de navio (escunas), de número de tripulantes (oito) e de locais (Lagos) levanta uma série de desafios para a identificação histórica de ambos os naufrágios. Se não tivéssemos os documentos da alfândega de Lagos e da Marinha Portuguesa, poderíamos ser tentados a pensar que poderia ter havido um erro na transcrição do ano da perda. Mas, não: sabemos que são dois navios completamente distintos, com histórias separadas, mas com o mesmo nome genérico.

Na verdade, a existência de inúmeros navios mercantes com nomes comuns como “Mary” dificulta enormemente a investigação. Sem documentação detalhada, como registos de seguros, listas de carga ou relatórios de alfândega, é quase impossível determinar com exatidão a identidade de cada embarcação naufragada.

Nos séculos XVII a XIX, a prática de reutilizar nomes para navios era frequente, muitas vezes por tradição familiar, homenagens ou simplesmente pela facilidade de memorização. Assim, em cada grande porto britânico podiam existir várias embarcações chamadas “Mary”, operando simultaneamente, mas pertencentes a diferentes proprietários e com diferentes destinos.

Este problema agrava-se quando os naufrágios ocorrem fora do Reino Unido, pois os registos locais frequentemente não discriminam detalhes como o nome completo do armador ou mesmo as características estruturais do navio.

Assim, para os historiadores e arqueólogos marítimos, a melhor forma de tentar identificar navios com nomes repetidos é cruzar múltiplas fontes primárias, incluindo os registos da Lloyd’s Register, que documentavam anualmente os navios comerciais britânicos; os registos de seguro marítimo, que frequentemente detalhavam as condições dos navios antes dos naufrágios; os jornais da época, que reportavam naufrágios com descrições variáveis, dando pistas sobre carga, destino ou sobreviventes e os registos portuários, como os de Lisboa no Diário do Governo, que indicam a última escala conhecida da embarcação antes do naufrágio.

O que é certo é que o uso massivo de nomes comuns na marinha mercante britânica continua a ser um dos grandes desafios da investigação histórica e arqueológica, tornando alguns naufrágios verdadeiros enigmas marítimos, sem solução definitiva.
 
Na imagem: Uma escuna da época

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Colaboração de Alexandre Monteiro com a APP, texto respigado da página que o autor mantém no Facebook, intitulada "Um Mergulho na História".
Nesse espaço, o arqueólogo náutico e subaquático, também investigador universitário, mantém a secção "Um naufrágio por dia".
É dessa secção que resgigamos o texto que aqui publicamos.

"Um Mergulho na História" trata de "Naufrágios portugueses no Mundo, património cultural subaquático de Portugal e Ilhas, arqueologia náutica e subaquática, piratas, corsários e tesouros, reais, percepcionados e imaginários submersos".
A visitar em https://www.facebook.com/mergulho.historia

Alexandre Monteiro é arqueólogo náutico e subaquático, investigador do HTC-CFE da Universidade Nova de Lisboa e membro da Academia de Marinha.

É pós-graduado em Mergulho Científico, instrutor de mergulho e mergulhador profissional, tendo projectos de arqueologia com as autarquias de Alcácer do Sal, Lagos e Esposende e, no estrangeiro, nos Emirados Árabes Unidos e na Austrália.

É consultor da UNESCO, do governo de Cabo Verde e da Missão de Combate aos Crimes contra o Património Cultural da OSCE.

É, há 25 anos, o criador das bases de dados relativos a naufrágios históricos de Portugal Continental, Açores e Madeira, bem como de Omã e Cabo Verde.

 

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