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28 DE OUTUBRO DE 1856

Chegou o comboio!

"...a máquina, escusado será dizer, das mais primitivas (parecia um enorme garrafão), não tinha força suficiente para puxar todas as carruagens que lhe atrelaram e fora-as largando pelo caminho. Algumas, de convidados, nos Olivais. O vagon do Cardeal Patriarca e do Cabido ficou em Sacavém; mais um recheado de ilustres personalidades ficou ao desamparo na Póvoa. Creio que, se o Carregado fosse mais longe, chegava a máquina sozinha ou só parte dela."

in Caminhos de ferro portugueses, de Francisco Abragão

A primeira viagem de comboio em Portugal, entre Lisboa e o Carregado, realizou-se a 28 de Outubro de 1856. Nesse tempo não havia estradas, nem sequer bons caminhos. Os assaltos eram frequentes e até havia quem, com medo dos salteadores, "antes de partir deixasse feito o seu testamento".

De liteira demorava-se, pelo menos, cinco dias para ir de Lisboa ao Porto. De mala-posta seriam, no mínimo, 34 horas. Uma simples carta precisava de oito dias para chegar a Bragança...

Por isso, quando em 1856, D. Pedro V inaugurou o caminho-de-ferro até ao Carregado foi uma autentica revolução. Vinte anos depois do resto da Europa chegava, finalmente, a Portugal o progresso sobre carris.

Projecto do ministro Fontes Pereira de Melo, o comboio trazia com ele sonhos de desenvolvimento. Queria fazer-se de Lisboa a porta da Europa e quebrar o isolamento cultural e económico de séculos.

"Pelos caminhos-de-ferro que tinham aberto a península" - resumiu Eça de Queirós - "rompiam cada dia (...) torrentes de coisas novas, ideias, sistemas, estéticas, formas, sentimentos, interesses humanitários."

Durante mais de um século, para tudo quanto era importante em Portugal se ia de comboio.

De comboio partiu para o exílio Bernardino Machado, à porta de uma estação morreu Sidónio Pais, por caminho-de-ferro embarcou, em 1917 para a I Guerra Mundial, o Corpo Expedicionário Português, com o apoio dos ferroviários se fez o 28 de Maio de 1926.

E foi ainda de comboio que seguiu o funeral de Salazar ou que, depois do 25 de Abril de 1974, regressou do exílio Mário Soares.

fonte

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