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VIAJANDO PELA HISTÓRIA

Quando os ancestrais dos elefantes viviam junto às margens do Tejo

Não muito longe do campus da Alameda do Técnico foram encontrados “dentes muito grandes” de antepassados de mastodontes, com cerca de 20 milhões de anos, época em que estes ancestrais dos elefantes viviam junto às margens do rio Tejo. Estão atualmente no Museu Décio Thadeu, do Técnico, dirigido por Manuel Francisco, que lhes atribui “um significado particular”: mostram que existiram aqui, no exato local onde milhares de alunos se formam, elefantes durante muitos milhões de anos.

A zona envolvente do Técnico, em particular o Areeiro, é de resto umas das zonas mais ricas em fósseis do período miocénico [de entre há 24 milhões de anos até há 5 milhões de anos atrás], de animais como elefantes, rinocerontes, hipopótamos, entre outros. “O Areeiro era uma zona que tinha muitas areias, que eram usadas para indústrias, e que eram removidas à mão. Quando os trabalhadores escavavam à mão era mais fácil encontrar dentes e ossos desses animais”, explica Simão Mateus, paleontólogo do Dino Parque da Lourinhã, que também estudou parte do acervo dos Museus do Técnico durante a sua tese de doutoramento.
Para além dos mastodontes desse período, podemos imaginar em Portugal uma verdadeira savana e animais como hienas, hipopótamos, girafas e castores a percorrer o seu caminho entre vegetação extremamente alta, com quase dois metros de altura, no período pré-idade do gelo. “Uma das coisas que conseguimos perceber é a dimensão e a diversidade da fauna pré-idade do gelo, muito parecida com a fauna [atual] de África”, explica Simão Mateus. Entrando na idade do gelo, começam a aparecer na região animais mais parecidos com rinocerontes lanudos e mamutes. “O Areeiro já não é das zonas fossilíferas porque começaram a construir em cima. Uma das questões para se descobrir fósseis é não haver construções”, complementa.

Voltando aos dentes de mastodontes: estes elefantes “lisboetas, alfacinhas e ribajetanos viviam num ambiente mais quente, em meandros fluviais onde havia ervas altas, a savana tinha-se desenvolvido há pouco tempo (para aí uns dez milhões de anos)”. Havia uma grande variedade de elefantes, que se tinham diversificado “em formas muito estranhas”, rinocerontes com chifres bastante diferentes dos que temos atualmente, alguns com chifres de mais de um metro. “Por outro lado, tínhamos animais que vieram a dar origem aos cavalos, com três dedos e do tamanho de gatos, que eram os cavalos da altura. Havia também os tigres dentes de sabre, que comiam estes cavalos, os castores e os esquilos. Tínhamos também coisas mais estranhas como tubarões entrarem pela bacia do tejo e sado com toda a facilidade”, descreve Simão Mateus. Seres humanos ainda não.

Os dois tipos de elefantes que existem atualmente – o africano e o asiático – são uma simplificação da variedade que a família dos elefantes tinha anteriormente e que se manifestava também em Portugal. “Os elefantes não se extinguiram da Península Ibérica assim há tanto tempo. Acredita-se que há cerca de 2000 anos ainda existiam elefantes autóctones na Península Ibérica e na Europa, muito parecidos com os atuais Acredita-se que a extinção tenha sido devida a caça humana”, explica Simão Mateus.

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