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Notícias
MAIO DE 1918
Lugre «Altair» lançado à água «no lindo cais de Aveiro»
É um belo navio que tem mais de 60 metros de comprido por 11 de largo. E foi admirável vê-lo entrar na água, no domingo penúltimo, na Gafanha, em frente aos estaleiros com as suas bandeiras a tremularem pela viração agreste do Norte.
Foi uma festa atraente a que não faltou a concorrência numerosa e selecta e nem os hinos festivos de duas filarmónicas.
O embarque das pessoas convidadas a assistir ao lançamento do navio à água, realizou-se na lingueta em frente à alfândega, no lindo cais de Aveiro. O trajecto, feito à vela, foi rápido. No barco que nos conduzia, viam-se as pessoas mais gradas da sociedade e da magistratura aveirense, como os ilustres magistrados da Comarca, etc.
Na Gafanha, a multidão era compacta. Tivemos o prazer de cumprimentar ali, o nosso velho e querido amigo e conterrâneo sr. Manuel Rodrigues Sacramento, também sócio da empresa proprietária do «Altair», que com a sua digníssima esposa tem estado nesta vila.
O último cabo que prendia o excelente navio, que é a primeira embarcação de três mastros construída nos estaleiros da Gafanha, estava destinado a receber o corte certeiro e inteligente do ilustre capitão do porto de Aveiro, sr. Silvério Rocha, que, por uma deferência honrosíssima, delegou num dos oficiais franceses, que estão em S. Jacinto, a execução dessa formalidade.
Cortada, pois, a última amarração, deslizou serenamente pela carreira, enquanto estralejavam nos ares dezenas de foguetes, tocavam as duas filarmónicas e se prolongavam entusiasticamente os vivas e as palmas. O lindo navio varou a margem da ria, como que uma gazela que engalanada se quer pôr a descoberto, e, num instante, aparecia na cale, onde lançava ferro a tornar sublime a paisagem.
Houve um momento de verdadeiro delírio, quando no castelo da proa da embarcação toda garrida de cores e ainda a oscilar fidalgamente nas águas azuis-esverdeadas do nosso lindo Vouga, apareceram muitos trabalhadores a saudar, descobertos, a multidão e a maravilhosa obra d’arte que a mesma multidão admirava. Foi um momento de indescritível entusiasmo, que se repercutiu no salão onde a Empresa «Boa Esperança» ofereceu um delicadíssimo copo d’água aos seus convidados, entre os quais o mais humilde éramos nós.
Felicitamos a Empresa do «Altair», desejando-lhe as maiores prosperidades.
(in jornal Nauta, 12 de Maio de 1918)
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