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Notícias
Aconteceu em 1962
O Verão chegou e a temperatura arrasou
"Lisboa ficou deserta e as praias quase à cunha... " Noticiava o DN sobre aquele que foi o primeiro fim de semana do Verão de 1962. E, ao contrário do outros anos - o que prova que a sua indefinição não é de agora - veio para arrasar.
"Forte, vitorioso, dominador, implacável", adjetivava o DN a chegada do Verão em 1962. E foi ver como estavam as praias de Lisboa, "à cunha", em comparação com as ruas da Baixa, "desertas". Reportagem na primeira página, a praia de Carcavelos como foto principal, e a Rua Garrett, como secundária.
Não é que o lisboeta não soubesse que o verão ia chegar, mas em 1962 surgiu com toda a sua força e pujança.
"Surgiu assim, no seu dia próprio, marcando de forma déspota o início do seu reinado que vai durar três meses. O lisboeta esperava-o, sabia que no dia 21 de junho, como invariavelmente sucede em todos os dias 21 de todos os meses de junho, o calendário lhe imporia o verão. O que não sabia é que este apareceria tão cioso das suas prerrogativas e tão poderoso para as fazer valer. É que, em outras vezes, o verão, nos primeiros dias do seu mando, nem parece verão. Sem personalidade própria, já tem mesmo começado a reinar pelas mãos do inverno."
Mas em 1962 não, veio em força. O lisboeta "aligeirou o traje", "abriu as janelas de par em par", "sorveu gelados e refrigerantes".
"Trabalhou de camisa aberta", "tirou a gravata" quando o deixaram, "ventoinhas acionadas em ritmo que gostaria fosse ciclónico" e, depois do trabalho, "refugiou-se em casa ou nas esplanadas".
Três dias assim, até que chegou o fim de semana, aí o lisboeta vingou-se. No primeiro domingo de verão, "o alfacinha podia defender-se. E defendeu-se. Venceu mesmo o fogo".
Lembremo-nos que não só as estações do ano se escreviam com letra maiúscula e algumas palavras não eram consideradas politicamente incorretas, como não havia ponte sobre o Tejo - seria inaugurada quatro anos depois - e poucos tinham viatura própria. Portanto, o lisboeta rumou sobretudo para as praias da linha de Cascais.
"Autocarros, 'metro', elétricos e depois barcos e comboios não pararam um instante, para dar vazão às contínuas 'bichas' que se formaram. Foi um êxodo." E "a cidade, com os seus asfaltos reluzentes e escaldantes, ficou praticamente deserta".