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Notícias
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CANAL MENO-DANÚBIO
«Maior tolice desde a Torre de Babel»
No dia 31 de julho de 1992, foi inundado o último trecho do Canal Meno-Danúbio. A passagem para navios de grande porte liga o Mar Negro e o Mar do Norte. A obra sofreu duras críticas pelos danos ecológicos que provocou.
Qual é o momento certo de abandonar um negócio que só dá prejuízo? Não só os investidores do chamado "novo mercado" oscilam entre a intenção de pôr fim ao susto e a esperança de que as perdas ainda possam ser compensadas por futuros ganhos. O que é melhor: apostar numa visão ou aceitar o fracasso?
Esse dilema é bem ilustrado pelo projeto de construção de uma ligação fluvial contínua através dos rios Reno e Danúbio. A primeira tentativa foi feita por Carlos Magno há mais de 1.200 anos.
"Vala de Carlos"
Cerca de 10 mil pessoas ocuparam-se, a partir de 793, da construção da chamada "Vala de Carlos" e o difícil abastecimento dos operários. Apesar de dispendioso, o plano de ligar um afluente do Danúbio a um afluente do Meno tinha sua razão de ser. No início da Idade Média, o transporte fluvial e marítimo era bem mais confortável, seguro e rápido que o rodoviário.
A visão de Carlos Magno esbarrou em seus limites, pois a vala era constantemente fechada por quedas de barreiras decorrentes de enxurradas, e não era mais possível abastecer a mão-de-obra com os mantimentos necessários. A escavação não chegou a atingir dois quilômetros, mas a idéia nunca morreu.
"Canal de Ludovico"
A segunda tentativa de concretizá-la só ocorreu mais de mil anos depois. O rei bávaro Ludovico 1º entusiasmou-se com a construção de uma via fluvial entre o norte e o sul da Baviera. Em 1836, começou a abrir o "Ludwigskanal", entre Kehlheim, no Danúbio, e Bamberg, no Meno.
Dez anos depois, o canal estava pronto e, nos primeiros anos de atividade, até deu lucro. No entanto, era muito estreito e, com o tempo, não aguentou a concorrência da rede ferroviária. Em quase 100 anos de atividade, sequer o capital investido pôde ser amortizado. O tesouro público da Baviera pagou caro pelo sonho do rei.
"Maior tolice desde a Torre de Babel"
A terceira tentativa de realizar o projeto foi fruto do delírio tecnológico dos anos 1920. A idéia era ligar o Mar do Norte ao Mar Negro, através dos rios Meno e Danúbio. Num esforço inédito, o Meno foi completamente canalizado e tornou-se navegável até Bamberg. Já no Danúbio foi construída uma série de represas e comportas. Algumas dessas obras ainda estavam em andamento em pleno século 21.
Finalmente, em 1960, começou a construção do canal propriamente dito, paralelo ao antigo Ludwigskanal. Nos primeiros 20, foram investidos 2,9 bilhões de marcos na obra. Em 1981, Volker Hauff, então ministro dos Transportes, tentou puxar o freio de emergência.
Ele não queria investir mais cerca de 2 bilhões de marcos numa obra que considerava "a maior tolice já vista desde a construção da Torre de Babel". Hauff, porém, foi obrigado a mudar de ideia. Admitir o fracasso, depois de 60 anos de construção, seria insustentável. E assim as obras prosseguiram, até que a 31 de julho de 1992, o último trecho do Canal Reno-Meno-Danúbio foi alagado.
Prejuízo ambiental
Sem incluir as obras de retificação e dragagem do Meno e do Reno, o canal custou 4,7 bilhões de marcos. Apesar de todas as medidas de recuperação adotadas, o prejuízo ambiental e a deformação paisagística foram enormes. E para quê?
É verdade que o volume de mercadorias transportadas pelo canal cresce ano após ano, e cerca de 10 mil embarcações trafegam anualmente por essa via fluvial. Tal número corresponde ao tráfego diário de 14 navios em cada direção. Mas apenas 4% das mercadorias transportadas por via fluvial na Alemanha passam pelo canal. E quem realmente quer viajar do Mar Negro ao Mar do Norte o faz pelo Estreito de Gibraltar.
Curso por nove países europeus
A visão de uma Europa unida pelo Canal Meno-Danúbio ainda não foi destruída, mas já custou rios de dinheiro. Essa visão baseia-se principalmente no curso do Danúbio. O rio de aproximadamente 2.800 quilômetros de extensão nasce na região dos contos de fadas de Grimm, na Floresta Negra, na Alemanha, e corta ou circunda nove países europeus com uma população total de 202 milhões de habitantes.
O papel do Danúbio como um corredor de transporte começa em Kelheim, no sul da Alemanha, onde o rio se conecta ao Canal Meno-Danúbio. Seu destino final no Mar Negro é Sulina, uma pacata cidade de aproximadamente 4 mil habitantes.
Sulina é, talvez, o sinal mais evidente de que o Canal Meno-Danúbio tem um futuro, no mínimo, incerto, como caminho da integração européia. "A cidade está morrendo aos poucos, mas está morrendo, sem dúvida", diz Victor Iancu, presidente da Navrom-Delta, empresa que programa passeios de barco na região.
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