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2 DE OUTUBRO DE 1947

O encalhe do navio hidrográfico «D. João de Castro» nas águas de Cabo Verde

O que é que uma erupção marinha que teve lugar no final da segunda década do século XVIII entre as ilhas açorianas da Terceira e de S. Miguel tem a ver com o primeiro barco construído no Arsenal de Marinha de Lisboa, em 1941, a ilha de Santo Antão, onde este naufragou (ilha essa situada… nos Açores!!!) e com o fugaz vice-rei da Índia, D. João de Castro? “Tudo!”, respondo eu desde já, antes que o leitor diga… “Nada!”

Vamos aos factos. No último dia do ano de 1720, em que reinava Sua Majestade El-Rei D. João V e já fora lançada a primeira pedra do convento de Mafra, deu-se um tremor de terra nos Açores, mais ou menos no enfiamento entre as ilhas Terceira e S. Miguel. Como sucede muitas vezes em casos semelhantes, também aqui nasceu uma nova ilha, de configuração circular, com cinco quilómetros de diâmetro. Porém, devido à erosão marítima, cerca de ano e meio após, as autoridades (no caso o Conselho de Marinha) eram informadas de que a ilha desaparecera.

Surgiu então a lenda da insula que uns diziam desaparecida e outros afirmavam ainda existir – ou pelo menos um baixio dela resultante. A discussão sobre o assunto iria prosseguir por mais de dois séculos…
Em 1759 fundou-se em Lisboa o Arsenal de Marinha que em 1937 transitou para a margem sul do Tejo, mais concretamente para a região do Alfeite. O primeiro barco ali construído seria o navio hidrográfico «D. João de Castro», lançado ao mar em 1941, que do militar e cientista de grande envergadura, da primeira metade do século XVI, recebeu o nome. Ao que parece, tratava-se de embarcação de grande nível, equipada com o que de mais moderno havia no género, na altura.

Aquela que terá sido a sua primeira grande tarefa, situou-se nos Açores e teve sucesso imediato. Na realidade, a 28 de Julho de 1941, o «D. João de Castro» descobria o que restava da lendária ilha, apenas um baixio, a que, segundo as tradições navais foi dado o nome do vaso de guerra. A plataforma rochosa, localizada a 38º13,5’ de latitude Norte e a 26º38,6 de longitude Oeste, apresentava uma profundidade mínima de 14m.

A última missão do navio, que acabou em tragédia, desenrolou-se nas águas de Cabo Verde, escassos seis anos depois. A 2 de Outubro de 1947 recebia-se um rádio no ministério da Marinha, em Lisboa, em que se dizia que o «D. João de Castro» encalhara e que em princípio estava perdido, no “litoral da ilha de Santo Antão, no arquipélago dos ‘Açores’ na zona de Janela”. Isto dizia-o o «Diário Popular», no dia seguinte, através da caneta de um jornalista pouco ilustrado nas coisas geográficas. A notícia prosseguia, avançando alguns dados sobre o sinistro:

“O desastre verificou-se quando o navio procedia a trabalhos da sua especialidade, que na generalidade são muito arriscados. O barco, comandado pelo capitão-tenente Augusto Vasconcelos de Sousa, técnico distinto e dos mais competentes da nossa Marinha de Guerra, encontrava-se naquele arquipélago em funções de levantamento. Tudo leva a crer que o «D. João de Castro», dada a má situação em que ficou, só com muita felicidade se salvaria. Novas informações recebidas no ministério da Marinha levam à conclusão de que, infelizmente, o navio-motor «D. João de Castro» se encontra perdido, estando a proceder-se ao maior número possível de salvados a bordo. Às 14h15 largou do Tejo, com destino às águas de Cabo Verde, o contratorpedeiro «Vouga», que segue para o local a fim de prestar a necessária assistência. Confirma-se que não há desastres pessoais, estando a sua tripulação recolhida em casas particulares, em S. Vicente, para onde foi conduzida a bordo dos rebocadores que logo seguiram para o local do sinistro. Constituem a tripulação, cerca de 30 oficiais, sargentos e praças.”

Ainda se fizeram diversas tentativas para salvar o «D. João de Castro», mas todas resultaram infrutíferas. Pensou-se em remeter para o Sal um bimotor da TAP com oficiais da Armada especialistas em desencalhes, mas essa ideia foi abandonada a favor do envio de um barco sueco de salvação, o «Fripiof», na altura casualmente fundeado no Tejo, que transportou a bordo o capitão-tenente construtor naval Fernando Araújo. Em face do que ele visse e da sua análise dos factos, assim se decidiria utilizar outros meios, como rebocadores das bases navais francesas de Dacar ou Casablanca. Mas entretanto foi destacado da Guiné o rebocador «Bissau», para colaborar no salvamento. Contudo, este só chegou ao local do encalhe a 11, cerca de nove dias após o sinistro. O «Fripiof» apenas ali arribaria a 14. A 18 ainda se procedia através de bombas ao esgotamento da água que entretanto havia entrado. No dia 19 chegava-se enfim à conclusão de que não havia mais nada a fazer, pois o barco estava definitivamente perdido. Os salvados foram retirados e toda a tripulação regressou sã e salva a Lisboa. Mas acabava ingloriamente a carreira deste navio científico, mais um dos muitos que encontraram o fim dos seus dias nas águas de Cabo Verde.

Como remate deste nosso «Cabverd di meu», mais uma nota de erro do encarregado das reportagens, esta do dia 7 de Outubro: “O comandante, oficiais e toda a restante tripulação têm sido incansáveis e encontram-se bem, com alojamentos na capital da colónia onde desde o seu desembarque lhes dispensaram carinhoso acolhimento.” Ora, como todos sabemos, a capital da colónia era a Praia e não o Mindelo, onde realmente a tripulação se encontrava alojada. Mas se o jornalista continuava a não acertar com a geografia, pelo menos era claro (e decerto exacto) quanto ao tratamento dispensado pelos mindelenses aos marinheiros portugueses. Coisa que se repetiria sempre, por exemplo, com o «Pedro Nunes» (este mais habituado às águas da Guiné) ou o «Comandante Almeida Carvalho», depois rebaptizado como «Cacheu», de boa memória para as gentes das ilhas, em particular para as de S. Vicente.

Reprodução de "Joaquim Saial - Histórias de mar (1) - O encalhe do navio hidrográfico 'D. João de Castro".
 







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