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VIAJANDO PELA HISTÓRIA DO PORTO DE LISBOA

Emprehendimento de promover Lisboa á cathegoria de caes da Europa

Na primeira década do século XX, a tendência da municipalidade de tornar a apostar no embelezamento da zona ribeirinha, nomeadamente do Aterro da Boa-Vista e avenida 24 de Julho, continuava na ordem do dia. Em 1906, o vereador Sabino Coelho (1853-1938) colocou na ordem de trabalhos a questão do embelezamento da zona ribeirinha ocidental. A causa desta nova chamada de atenção era o “emprehendimento de promover Lisboa á cathegoria de caes da Europa”, em que estava empenhada a recém-formada Sociedade de Propaganda de Portugal.

Esta Sociedade, criada por um conjunto de personalidades das diversas sensibilidades político-partidárias da época patrocinou durante estes anos diversas propostas de melhoramentos e embelezamento de Lisboa. Uma das zonas da capital que lhe mereceram especial atenção foi, precisamente, a zona ribeirinha, para a qual tinha as seguintes aspirações: promover a transferência do arsenal de Marinha; promover o prolongamento do caminho de ferro de Cascais até Santa Apolónia; promover a entrega de todos os cais e terrenos do Porto de Lisboa aos serviços de passageiros, mercados e comércio maritimo; promover a construção de terraços sobre colunas nas margens do Tejo para que o publico pudesse daí avistar o rio, segundo o modelo adoptado para o porto de Anvers.

A maior oposição a este projecto veio do arquitecto Miguel Ventura Terra (1866-1919) que era, desde 1908, vereador municipal eleito pelo Partido Republicano. No contexto da sua acção ao serviço do município da capital, Ventura Terra defendeu vigorosamente o que, na sua própria visão era necessário para os melhoramentos da zona ribeirinha, incluindo a construção do porto de Lisboa. Ventura Terra propunha, por exemplo, que se fizesse um acordo com a Companhia Real de Caminhos de Ferro para que a estação terminal do caminho de ferro de Cascais fosse construída em Santos, e não no Cais do Sodré (como acabou por sê-lo), proposta que aliás conseguiu ver aprovada em sessão camarária.

Parte desta visão foi divulgada numa entrevista que a revista Ilustração Portuguesa fez a Ventura Terra, em 1910, e onde, a propósito da proposta da Propaganda de Portugal, de transferência do Arsenal para a margem esquerda, afirmou: “Por mim até gostaria“porque então essa avenida do Aterro que eu planeei, a extensão desde Santos, com os seus jardins, prolongar-se-hia mais, tomaria os terrenos do actual Arsenal e seria no famoso Terreiro do Paço que iria terminar”. Na extensão entre Santos e o Cais do Sodré, o arquitecto-vereador sonhava com “edificios importantes sem duvida os mais bem situados da Capital, grandes hoteis, casinos, museus, etc. Constituindo o todo um esplendido vestibulo desta cidade”, permitindo aos turistas que desembarcavam em Lisboa ter “a impressão de entrar n’uma capital civilizada”. Este plano para a margem ribeirinha da cidade era, em suma, uma versão mais modesta da grandiosa monumentalidade que, em 1906, Fialho tinha também sonhado para a Lisboa ribeirinha.

Se para Miguel Ventura Terra, o plano da Propaganda de Portugal não devia ser tido em conta, o contrário também sucedia. Isto é, para a direcção daquela sociedade, o plano do arquitecto era “nocivo e chimerico”. Estas divergências de opinião em relação aos melhoramentos a empreender na margem ocidental de Lisboa, no sentido de aformosear a cidade, foram objecto de algumas iniciativas levadas a cabo pela Sociedade de Propaganda pela voz do seu presidente, o engenheiro Fernando de Sousa (1855-1942), durante os anos de 1909 e 1910 .

O objectivo era demonstrar que os alvitres avançados por Ventura Terra, nomeadamente a transferência da estação terminal da linha de Cascais do Cais do Sodré para Santos e o ajardinamento da faixa dessa faixa ribeirinha, eram “inoportunos e contraproducentes”. Por outro lado, respondia-se às objecções do arquitecto com os inconvenientes do seu próprio projecto. Por exemplo, que o “affastamento para mais longe, da estação do Caes do Sodre traria grandes inconvenientes para o publico”; que, se o terreno compreendido entre o Cais do Sodré e Santos era “preciso para jardins”, era “ainda mais preciso para o trafico commercial, cargas e descargas, etc.”; que a avenida marginal deveria ser construída entre a Praça do Comércio e o Cais do Sodré, assim que o Arsenal fosse mudado para a margem sul do Tejo. Deste modo, “nos terrenos devolutos, construir-se-hiam edificações magnificas, um hotel de primeira ordem, por exemplo”, ficando assim, “resolvido o problema do arsenal, da respectiva rua, e o de se arranjar, á beira Tejo, um formoso passeio”.

Alguns meses mais tarde, em reacção à entrevista de Ventura Terra à Illustração Portuguesa, o presidente da Propaganda realizou uma conferência sobre o mesmo assunto, onde tornou a rebater as afirmações de Ventura Terra, e afirmou que o seu único desejo era conciliar “as duas ideias - o Aterro, passeio de luxo e logar de trabalho”. Estas mesmas ideias eram também defendidas nas páginas da revista A Construção Moderna, nomeadamente num artigo intitulado “O ajardinamento da margem do Tejo entre Santos e Santa Apolonia”, onde se afirmava que embora “o alvitre apontado [pela Câmara Municipal] é certo que com louvavel intuito do embelezamento de Lisboa, teria o grave inconveniente de prejudicar não só a economia geral,.... mas obstaria á realisação do vasto plano integral que Emygdio Navarro condensou nas palavras «Lisboa caes da Europa»....”.

Os melhoramentos da margem do Tejo tornaram-se para Miguel Ventura Terra uma quase obsessão, não se tendo poupando a esforços para os conseguir ver realizados, mobilizando para a sua causa diversas entidades com influência na vida social e económica de Lisboa. Ao longo dos anos em que ocupou a cadeira de vereador (1908-1912), Ventura Terra não deixou de insistir para que o poder central aprovasse e disponibilizasse os meios suficientes para pôr em prática a sua visão. Numa dessas vezes, fazendo uma espécie de ponto da situação, recordava que “ ha cerca de dois annos que a Camara vem representando naquele sentido [aprovação do plano de melhoramentos da margem do Tejo] aos respectivos ministerios, sem que tenha até hoje recebido resposta; nem mesmo consta que tivesse sido acusada a recéção das sucessivas representaçãoes (...)”, pelo que concluia propondo que “novamente se represente ao Ministerio do Fomento, pedindo urgencia na resposta”. A Câmara Municipal necessitava que o poder central lhe cedesse os terrenos que lhe pertenciam e que negociasse com a Companhia dos Caminhos de Ferro Portugueses os terrenos que esta possuía entre o Cais do Sodré e Santos. Para isso, foi Ventura Terra o autor de numerosas representações ao poder central que, pura e simplesmente, as foi sucessivamente ignorando. Mesmo o governo central saído da revolução de 5 de Outubro de 1910 que partilhava dos ideais políticos que a equipa que administrava a cidade do país, demonstrou a mesma indiferença que os anteriores executivos. Quem acabou por ganhar esta causa foram a Companhia de Caminhos de Ferro, a Administração do porto de Lisboa e a Sociedade de Propaganda de Portugal, que acabou por levar de vencida algumas das suas aspirações, ao conseguir ver construída no local que defendia - o Cais do Sodré - a estação do caminho de ferro para Cascais.

Em 1916, a Administração do Porto de Lisboa e a Sociedade de Propaganda de Portugal fizeram parte de uma comissão destinada a resolver o problema dos melhoramentos da margem ocidental do Tejo. Esta comissão, cujos outros membros eram o presidente da comissão executiva da Câmara Municipal, o director geral dos Correios e Telégrafos, um engenheiro da exploração do porto de Lisboa, um engenheiro da Companhia dos Caminhos de Ferro, um engenheiro da Companhia do Estoril, acessorados pelos vereadores dos pelouros de Engenharia e Arquitectura e os chefes da 3ª (engenharia) e 4ª (arquitectura) da edilidade elaborou um ante-projecto classificado como “uma obra absolutamente realizavel”, com inúmeras “vantagens de ordem economica e estetica”, destinado a “fazer desaparecer da margem do Tejo as construções marroquinas” que por aí imperavam[57]. Contudo, neste ante-projecto as aspirações do arquitecto Ventura Terra acabaram postas de lado. Quem perdeu não foi Miguel Ventura Terra, mas Lisboa.

FOTO: Avenida 24 de Julho (186_?) Fotógrafo não identificado (ATERRO da 24 de Julho, a Praça Duque da Terceira ainda sem a estátua mas arborizada e com calçada à portuguesa) in AFML

ARTIGO NA ÍNTEGRA DISPONÍVEL AQUI

 







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