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O perfil da margem ribeirinha de Lisboa em meados do século XIX

“Cidade disposta em anfiteatro, em sucessivos terraços... ora perdendo-se lá longe,... ora avançando sobre o rio como o estreito tombadilho duma nau. [...] Como aproveitou o lisboeta estas condições naturais tão singulares, esta dádiva do céu e da água? Que partido tirou ele do Tejo? Voltou-lhe as costas, simplesmente”. Era neste tom pessimista que o escritor, ensaísta e jornalista Raul Proença (1884-1941) apresentava as suas impressões gerais da cidade no 1º volume do Guia de Portugal, dedicado a Lisboa e arredores, publicado em 1924.

E Proença ia ainda mais longe: “Na faixa marginal da cidade tem-se a impressão de que as edificações que ali se ergueram obedeceram à intenção de tapar com um biombo de cantaria a vista do Tejo... E em vez de tudo convergir para o rio fantástico, de ele ser o fundo dos quadros decorativos, de constituir, por assim dizer, o leitmotiv da estética citadina, e de se abrir a seu lado uma das mais belas avenidas do Mundo, corre ali um paredão inestético de casaria, de fábricas, de armazéns, e até de gasómetros, ocultando ao lisboeta a vista do seu largo e claro rio”.

FOTO: Avenida 24 de Julho - (Depois de 1877) Fotógrafo não identificado (Aspecto da zona antes da construção da Rua 24 de Julho) (Colecção Seixas) in AFML

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