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Um Mergulho na História | Por Alexandre Monteiro
Neste dia 12 de Abril, o abalroamento do «Ricardo»
No final do século XIX, a província espanhola de Huelva transformava-se num dos principais centros mundiais de extracção de pirite de cobre, metal essencial para uma Europa que se industrializava rapidamente.
A região de Riotinto, com as suas jazidas minerais exploradas desde a Antiguidade, viu-se revitalizada por investimentos estrangeiros, nomeadamente britânicos, que dinamizaram a extracção e exportação do minério. Navios cargueiros zarpavam diariamente do porto de Huelva rumo ao norte da Europa, carregados com pirite bruta destinada aos complexos industriais do Reino Unido e da Alemanha.
Foi neste contexto de intensa actividade mineira e comercial que, a 10 de Abril de 1891, o vapor britânico “Ricardo” partiu do porto de Huelva com destino ao rio Mersey, no Reino Unido, levando a bordo um carregamento de pirite de cobre.
O “Ricardo”, um cargueiro moderno para a época, fora construído em aço em 1889 pelos estaleiros William Pickersgill & Sons Ltd., de Southwick, Sunderland. Equipado com uma máquina a vapor de tripla expansão com três cilindros, o navio registava 1218 toneladas brutas e media 70,1 metros de comprimento por 10,4 metros de largura.
Operado pela empresa Jones R. W. & Co., sob a bandeira da companhia Uskside Steamship Co., de Newport, no País de Gales, o “Ricardo” representava uma nova geração de navios mercantes, construídos para transportar cargas pesadas de forma eficiente e com maior segurança em mar aberto.
A viagem decorreu normalmente até à madrugada do dia 12 de Abril, quando, ao largo do cabo de São Vicente, o “Ricardo” colidiu com o vapor grego “Adelphie-Couppa”, numa manobra de aproximação mal calculada. As circunstâncias exactas do abalroamento não são claras, mas tudo indica que o nevoeiro e a fraca visibilidade terão contribuído decisivamente para o acidente.
O impacto foi devastador para o cargueiro britânico. O casco sofreu danos estruturais extensos e o “Ricardo” começou a meter água a ritmo acelerado. O capitão Jones, comandante da embarcação, organizou imediatamente os esforços de evacuação. Apesar da situação caótica e do perigo iminente, todos os 19 membros da tripulação conseguiram abandonar o navio a tempo, sendo resgatados pouco depois pelo vapor francês Auguste-Conseil, sob o comando do capitão Jean Bertaut, que navegava nas proximidades e respondeu aos pedidos de socorro.
O “Ricardo” afundou-se pouco depois do resgate. O vapor grego “Adelphie-Couppa” sofreu igualmente danos consideráveis na proa, mas conseguiu, ainda assim, prosseguir viagem até ao porto de Cádiz, onde foi submetido a reparações.
A actuação do capitão Bertaut foi amplamente elogiada pelas autoridades marítimas e diplomáticas britânicas. O governo de Sua Majestade, em sinal de gratidão pelos esforços heróicos demonstrados durante o salvamento dos marinheiros britânicos, ofereceu-lhe uma luneta de precisão, entregue formalmente pelo Ministro do Comércio, como símbolo do seu reconhecimento.
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Colaboração de Alexandre Monteiro com a APP, texto respigado da página que o autor mantém no Facebook, intitulada "Um Mergulho na História".
Nesse espaço, o arqueólogo náutico e subaquático, também investigador universitário, mantém a secção "Um naufrágio por dia".
É dessa secção que respigamos o texto que aqui publicamos.
"Um Mergulho na História" trata de "Naufrágios portugueses no Mundo, património cultural subaquático de Portugal e Ilhas, arqueologia náutica e subaquática, piratas, corsários e tesouros, reais, percepcionados e imaginários submersos".
A visitar em https://www.facebook.com/mergulho.historia
Alexandre Monteiro é arqueólogo náutico e subaquático, investigador do HTC-CFE da Universidade Nova de Lisboa e membro da Academia de Marinha.
É pós-graduado em Mergulho Científico, instrutor de mergulho e mergulhador profissional, tendo projectos de arqueologia com as autarquias de Alcácer do Sal, Lagos e Esposende e, no estrangeiro, nos Emirados Árabes Unidos e na Austrália.
É consultor da UNESCO, do governo de Cabo Verde e da Missão de Combate aos Crimes contra o Património Cultural da OSCE.
É, há 25 anos, o criador das bases de dados relativos a naufrágios históricos de Portugal Continental, Açores e Madeira, bem como de Omã e Cabo Verde.
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