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HISTÓRIAS COM NAVIOS | POR JOSÉ PAULO SARAIVA CABRAL

Cimenteiro que ao cais fez da quilha portaló

[ Na vida profissional encontramos frequentemente a terminologia e as expressões da marinharia e convivemos com as leis da física e da engenharia naval. Algumas das histórias são engraçadas, mas o mais interessante é confrontarmos a realidade do dia a dia com os conhecimentos sobre navios que acumulamos na parte de trás das nossas cabeças.
As crónicas são apontamentos da vida de peritos navais, tão verdadeiras quanto o permite citá-las de memória, mas estão totalmente descaracterizadas no respeitante aos navios, comandantes, personagens, portos e nacionalidades. ]


Navio graneleiro com uma carga completa de cimento. O navio não era especificamente cimenteiro, tinha adaptado no cobro dos seus dois porões um sistema de descarga constituído por painéis perfurados (air slides) que injetavam ar no cimento, fluidificando-o, e o cimento era encaminhado por gravidade para umas bombas de parafuso que pressionavam o cimento assim aerificado para uma mangueira que alimentava os silos de receção em terra. O navio estava atracado ao cais, bem cingido contra as defensas, para evitar puxões e abrasão na mangueira de descarga.

Umas três horas após o início da descarga, o navio começou a inclinar para o lado oposto ao cais, rebentou os cabos de amarração e virou-se muito rapidamente. Os testemunhos falavam num processo que durou menos de um minuto. O navio ficou deitado ao longo do cais, assente no fundo, quase cheio de cimento, na altura, mais parecia uma rocha!

Estudaram se várias possibilidades que poderiam ter causado ou concorrido para o acidente. Em todos os casos havia que reter duas particularidades importantes: a) a carga de cimento estava fluidificada, criando um efeito negativo na estabilidade idêntico ao do espelho líquido; b) o processo de virar foi muito rápido, cerca de 1 minuto ou menos. Curiosidade: dada a natureza crítica do acidente, constituiu-se uma equipa com dois engenheiros navais e um comandante experiente no cimento tendo os dois engenheiros navais trabalhado independentemente um do outro e, só no fim, se confrontaram as suas hipóteses e cálculos.

Hipóteses principais analisadas:

I. Uma defensa do cais, que era do tipo painel de encosto elástico, ter, por ação da maré a subir, pegado no verdugo do navio, este inclinar progressivamente no sentido do cais, a carga fluidificada durante a descarga ter corrido para esse bordo, por qualquer fenómeno exterior normal (ligeira ondulação; vento) o verdugo ter-se soltado e o navio ter rodado para o bordo oposto com inércia suficiente para vencer a reserva de estabilidade e, com a carga fluidificada, ter rapidamente virado.

II. O navio ter assentado no fundo, ou em algum “monte” junto ao cais, resultando numa perda de estabilidade induzida por essa força vertical de baixo para cima, suficiente para o navio se virar.

III. Estabilidade reduzida, drasticamente afetada pela fluidificação da carga durante a descarga.

Estudaram se com profundidade todas estas hipóteses e acabou por se concluir pela terceira. Não ficaram dúvidas quanto à gravíssima perda de estabilidade resultante de ter uma superfície livre de carga fluída no porão, criando um efeito de espelho líquido muito significativo, que, provavelmente, terá sido provisoriamente encoberto pela amarração ao cais.

O navio manteve-se afundado ao longo do cais, podia passear-se a pé pelo costado, com um pedregulho de cimento endurecido no interior!
A sua remoção do local também foi uma surpresa: um aparelho com umas correntes de corte envolvendo cada secção ao longo de todo o perímetro foram sucessivamente cortando o navio às fatias, e removiam-se os bocados com meios de elevação e transporte de terra.

POR JOSÉ PAULO SARAIVA CABRAL (engenheiro naval)

 José Paulo Ferreira Saraiva Cabral é formado em engenharia naval na University of Strathclyde em Glasgow, Escócia, em 1971. Serviço militar na Armada, passou pela Guiné-Bissau. Professor efetivo de Arquitetura Naval na Escola Náutica Infante Dom Henrique durante oito anos. Fundou e geriu a empresa de peritagem e consultoria Navaltik Portugal, com inúmeros projetos nacionais e internacionais.
Autor do livro “Arquitetura Naval - estabilidade, cálculos, avaria e bordo livre”, já fora de circulação. Autor dos livros “Organização e Gestão da Manutenção, dos conceitos à prática” e “Gestão da Manutenção de Equipamentos, Instalações e Edifícios”, publicados pela LIDEL, o primeiro em 6ª e o segundo em 4ª edição.

Lançou, em Março de 2023, o livro “O Navio e as instalações de bordo”.




 












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